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Sarah era uma mulher feliz. Tinha uma vida sem muitas surpresas, mas uma vida satisfatória, o tipo de vida que não se reclama. Uma casa legal, um marido que a amava, um bom trabalho e um gato que ela adorava. Viajava, fazia compras, assistia bons filmes, tinha bons amigos. Mas Sarah não sentia-se completa. Queria novamente a sensação de frio na barriga, o inesperado, o descontrole. Pois ela era assim. Não entendia como caiu naquela rotina, queria mais mesmo sem saber o quê faltava. Foi então, em uma tarde cinza em um congresso que conheceu RGordon. Borboletas debatiam-se em seu estômago, o coração acelerou-se, suas mãos suavam, o rosto ruborizou-se frente aquele homem de trinta e poucos anos, despojado, com um ar de moderninho. Passaram-se dias, meses e ela não conseguia esquecê-lo, o homem que ela sempre imaginou estava bem ali. Inteligente, bom de papo, bonito, simpático, culto...foi então que iniciaram uma amizade onde descobriram afinidades. Aquilo estava indo longe demais. Ela ouvia as músicas que ele lhe indicava prestando atenção nas letras e melodias com a intenção de decodificá-las e achar algum recado, como se fossem indiretas. Pensava nele dia e noite tendo vergonha de si mesma por seus pensamentos. Mas ela pensava "ah, que tolice". Porém aquele homem parecia corresponder escrevendo-lhe textos incríveis onde dizia que ela era tudo o que sempre sonhou. Eis um trecho de um dos textos de RGordon sobre ela em sua coluna no jornal local: "De alguma forma ela conhecia todos os meus desejos e aspirações pois se apresentava a mim com todos os adjetivos que minha mente nada inocente conhecia. E tudo nela era fascinante: sua história, suas experiências, seus gestos, seu cheiro... Quem a fez não teve o mínimo trabalho criativo pois tudo nela era exatamente o meu conceito de ideal. Ipsis literis. Parecia ter sido moldada por mim mesmo. Quer me conhecer? Conheça-a primeiro, então. Ela era tudo o que eu pensava, gostava, admirava e desejava. Não fosse isso o bastante, ela ainda possuía a arma mais letal de todas: jurava ver-me com os mesmos olhos. Garantia-me passe livre para tudo, inclusive para tomar-lhe a alma. Marcamos nosso casamento no post-morten, uma vez que o universo não conspirava tão a favor assim, de forma que nossas vidas no momento não eram 100% compatíveis. Óbvio. Deus não dá asas às cobras". Sarah estava apaixonada. Ele a fazia sentir completa, devolvera-lhe o sorriso bobo ao rosto, a vontade de fazer amor na chuva...Quem não se apaixonaria por aqueles cabelos encaracolados, com palavras perfeitas, num momento imperfeito? Entretanto, como RGordon dizia, suas vidas eram incompatíveis já que ele morava em outro Estado e ela era casada. Decidiram-se não mais se falar, a paixão estava se tornando amor e não poderiam naquele momento desfrutarem de seus sentimentos. Por ironia do destino, o marido de Sarah pediu o divórcio. Ela chorou por isso e por alguns dias esqueceu-se da existência de RGordon. Quando as coisas se acalmaram ela o procurou e disse que estava desempedida para viver aquele amor. E entregaram-se de corpo e alma apesar da distância. Mas Sarah sentiu-se incompleta novamente, não admitia o fato de ter sido deixada. O sentimento de descontrole tomava conta de sua rotina, ela desejava o que fora. Por simples capricho. Era perfeita aos olhos de RGordon, mas era um ser humano como outro qualquer com sentimentos feios e ações piores. Em um passo tinha os dois, o homem de sua vida, RGordon, e o ex-marido. Sarah não era mal-intencionada mas sem fundamento justificado não admitia ser deixada. Queria o ex de volta, mesmo que fosse para deixá-lo depois. E por meses assim ficou. Tinha os melhores e mais nobres sentimentos por RGordon e os desejos de seu ego satisfazidos pelo ex. Mas este, sem muito destaque nesta novela, volta e meia conseguia colocá-la em suas mãos e aos poucos passou de coadjuvante a protagonista. Sarah tampouco entendia como deixou que a situação se invertesse de tal modo mas não sabia como modificá-la, pouco entendia de seus sentimentos, havia uma confusão metal enorme mesmo desejando-o mais que qualquer coisa não podeia pedir que RGordon abandonasse seu trabalho que ele tanto amava para viverem juntos. Foi então que ela escorregou na casca de banana e em um golpe mais que traiçoeiro feriu RGordon. Uma quarta pessoa passou a fazer parte da estória. Sarah em um ato de coragem enfrentou o amor de sua vida, enfrentou também o ex e optou por aquela quarta pessoa. Esta sim, era a mais importante e precisaria das forças de Sarah para fazer parte do mundo. Logo, viu-se sozinha, sem RGordon, sem ex. Certamente em uma atitude sublime o primeiro pôs-se a seu lado. Seu amor era tão veraddeiro que ele foi capaz de superar sua própria dor para estar a seu lado. Esteve com ela em todos os momentos mais importantes, mesmo á distância. Sarah, contudo, sentiu-se mesquinha, tirara os sonhos do homem de sua vida e em troca ele lhe estendeu a mão. Mesmo com toda gratidão do mundo ela sabia que jamais seria capaz de recompensá-lo e prometeu a si mesma que o faria o homem mais feliz do mundo. Mas RGordon não esperava mais essa recompensa, ele dava sem, em troca, esperar algo. Simplesmente por amá-la, assim mesmo, com todos os defeitos e estabaleceu para si um prazo de validade. Mesmo sem concordar Sarah aceitou já que seu coraçnao agora estava totalmente ocupado pela quarta pessoa. Ele a achava linda de qualquer maneira, principalmente naquelas ocasiões. Sentiu aquela quarta pessoa, participou de suas vidas em todos os momentso possíveis. Foi então, que a quarta pessoa chegou e RGordon decidiu não fazer mais parte daquele círculo já que eram pessoas demais envolvidas. O ex? Ah, este, já não importava, mesmo que continuasse como um dos protagonistas. O pior da estória estava por vir e mais uma vez, quando Sarah pediu RGordon deu-lhe o colo, o carinho, o amor, a mão, o braço, as palavras de conforto. A novela estava praticamente no final, e Sarah sabia que arriscou seu amor em troca de ter em sua vida a quarta pessoa mesmo que esta não ficasse tanto tempo assim. Quando esta se foi, lá estava seu amor, consolando-a mais uma vez. Todavia, Sarah não mais amava RGordon como antes, este amor triplicou-se apesar de se dividir com a quarta pessoa sendo esta a mais importante de que qualquer personagem. Sarah viu-se mais uma vez sem saber o que esperar e agora deveria catar todos os cacos que sobrara da última experiência. RGordon ajudou-a mais uma vez. Foi então que Sarah decidiu-se que somente doaria-se a RGordom quando estivesse totalmente completa e sua decisão foi no pior momento da vida dele já que precisava agora mudar de Estado (o mesmo que ela vivia) para um novo trabalho. Ele solicitara sua atenção, mas ela não teve a capacidade de manter a reciprocidade, tirou dos olhos o brilho que ele a deu e o devolveu. Pediu que o guardasse para o momento certo se assim o quisesse e o abandonou. Não tinha forças para um quanto mais para dois. Foi injusta. Sarah partiu com seu coração aos pedaços visando se recompor para dar ao amor de sua vida tudo o um dia que lhe tirara. Ainda o ama, pensa nele todos os dias. Nunca mais quis outro homem. Vezes ou outra se falam mas ele não tem mais a mesma doçura nas palavras. Ela entende. Sendo assim tira os antigos recortes de jornal de sua gaveta e lê falando para si mesma que ainda o fará o homem mais feliz do mundo. RGodrdon seguiu sua vida não contando mais com a presença de Sarah em seus futuros planos. Mesmo assim, ela nega a esquecê-lo. Dia desses a encontrei e ela me disse que quando tiver certeza que pode caminhar a seu lado e não pendurada irá procurá-lo. O ex? Ah, este suicidou-se no caminho.



Tenho dado mais valor às coisas simples da vida. Aos verdadeiros sentimentos, às pessoas verdadeiras que não fazem joguinhos, um dia ensolarado, andar na rua sem rumo, caminhar na chuva, um "olá" sem nenhuma intenção, ligações inesperadas de amigos, vento batendo no rosto, olhar as luzes da cidade a noite, dormir até tarde, acordar cedo, assistir a uma comédia romântica e não querer ser a mocinha, chorar, não chorar, sentir paz, não sentir raiva, sentir saudade, não sentir nada, não tentar entender o sentido das coisas, entender o sentido das coisas sem querer, vestir qualquer roupa, não vestir nada, tomar uma taça de vinho sozinha, rir de mim mesma, sorrir para os outros sem motivo, ficar de pijama o dia todo, admirar a "minha estrela", falar sozinha, não dar conselhos a ninguém, escolher meu próprio caminho, não ter certeza se o caminho é o certo mas ter coragem de me arriscar, ter orgulho de quem sou, ter orgulho do que faço, ter coragem de sentir o que tenho vontade, não ter vergonha de assumir que sonhos são desfeitos, gostar de estar sozinha, ter coragem de começar de novo, perdoar, não esperar nada de ninguém, saber que não tenho controle sobre a vida, aceitar o que a vida coloca em meu caminho, ver amigos que não vejo há tempos, fazer novos amigos, minhas novas amigas de blog, ter certeza de quem amo, amar e não ter medo de perder, ter mais paciência, cantar uma música brega bem alto no carro com o trânsito parado, ver o pôr do sol da minha varanda (a foto é de minha autoria), só querer que o dia termine bem.

Sakura


Gostaria de poder comemorar a data de hoje a seu lado, contudo não deixarei de estar feliz, pois você veio.
Aos poucos tenho conseguido preencher meus dias e ao invés de retomar a rotina tenho feito coisas diferentes. Estou aprendendo a desenhar e quem sabe mudar de profissão, me dedicar a minha verdadeira paixão. Será algo a longo prazo, serão várias noites entre um dia e outro, mas você me ensinou a ter paciência, a esperar, ter persistência e lutar com muito mais garra do que eu costumava fazer, e você sabe o quão corajosa eu sou!
Ainda não consegui desfazer totalmente seu quarto é um trabalho penoso. Me falta coragem para tirar os desenhos da parede, ficaram tão lindos e foram feitos por uma pessoa mais que especial. Tenho pensado em como aproveitá-los, mas sei que na hora certa saberei o destino das suas coisas. Sinto muitas saudades entretanto já consigo sorrir na maioria dos dias, pois este sentimento incorporou-se a minha pessoa e acostumei-me com ele.
Preciso desenhar um Sakura para levar para a minha terapeuta amanhã, aquela tia que preparou a cerimônia e a árvore de canela que plantei para você no Vida de Clara Luz.
O Sakura é símbolo da felicidade na terra do Sol Nascente, você sabe como a mamãe ama aquele lugar. Ela tem época para florescer entre março e abril, como você, floresceu em abril, assim como eu. Além disso, Sakura lembra a história dos samurais que, por estarem dispostos a morrer por seus mestres tinham poucos anos de vida, assim como as flores, assim como você. Na data prevista para o surgimento das flores, as pessoas correm para debaixo das árvores de cerejeira, onde realizam o chamado hanami (“observação das flores”) e foi da mesma maneira que fizemos com você.
Viveu neste mundo por muito pouco tempo mas será eterna assim como o Sakura é para aquele lugar. Traz beleza, fascinação, delicadeza. Sempre amei a imagem das cerejeiras florescendo, me sentia extremamente especial quando ia a um hanami tanto que passaram a fazer parte de mim, da minha personalidade
Junto com meus Sakuras agora está você.

"Tu és bela como o sol,
as estrelas e o luar.

Onde quer que estejas,
a tudo encanta tua beleza.

Esta beleza que encanta
é, na verdade, tua pureza.

Tu és bela como o sol,
as estrelas e o luar.

Para qual não há palavras,
nem como expressar.
Mas o mundo é impermanente,
e tudo vai mudar.

Tu és bela como o sol,
as estrelas e o luar.

Já que o mundo vai mudar,
um dia vai acabar.
Mas, a tua beleza,
para sempre vai continuar.

Tu és bela como o sol,
as estrelas e o luar.

O que existe de verdade
nunca pode acabar.
A vida é como um sopro,
que vai sempre terminar.

Tu és bela como o sol,
as estrelas e o luar.
Mas tua beleza é eterna,
para sempre vai ficar.
Pois a vida passa logo, mas tu vai continuar.

Tu és bela como o sol,
as estrelas e o luar.
Te amo para sempre,
para sempre vou amar.

O meu coração...de ti
nunca vai se separar.

Tu és bela como o sol,
as estrelas e o luar."


Poema de Lama Michel Rinpoche - 18 de maio de 1997.

Dançando

Fiz uma pequena seleção de algumas músicas que a Lelê gostava quando ainda estava em minha barriga, eram músicas que quando nós as ouvíamos ela sempre dançava, dançava sem parar (nasceu até com o joelhinho roxo!!)...pelo gosto da minha pequena dá para perceber o quão doce ela é.
Please, enjoy!


Mixwit

Presente

O pôr do sol estava tão lindo quanto antes fora. Sensação de alívio. Liberdade, enfim!
Não era a pessoa liberta, pois esta já estava há algum tempo, fora o coração. Pensamentos as vezes esvaíam-se para uma direção inadequada, tampouco confortante, mas junto com o sol pôr-se-ia o coração tantas vezes a disposição. Aquelas cartas com promessas de amor eterno desfizeram-se há alguns meses, mas as palavras devassas ainda ocupavam a mente. O ceticismo prevalecera por certo tempo entretanto nada é eterno. Ainda menos palavras que se dissolvem com as lembranças quem diria então com o tempo que corrói rochedos. Foi-se. Momentaneamente nem palavras restaram. Lembranças de uma boa época quem sabe, um abraço antigo, um cafuné remanescente...nem mesmo a matéria mais importante restou para contar o que um dia foi verdadeiro.
Nada mais resta. Tampouco o que um dia lhe fora dado, assim como a planta quando não regada morre. Nenhum dos seres anteriores permanecem. Os novos são imcompatíveis. Nem que experimente, nem que instigue. A criança descobriu que papai noel não existe, e isso é maravilhoso. Agora sente-se livre para escolher ela mesma seus presentes, pois o antigo brinquedo não lhe serve mais, perdeu as funcionalidades, a graça, o entreternimento que a fez distrair-se durante anos, a beleza, a amabilidade. Ela cresceu muito e como há de ser ganhou presentes mais compatíveis com sua maturidade. Agora ela sabe como aproveitar um de seus melhores presentes, made in japan.

Cicatriz

Olho no espelho e ela está lá, ainda um pouco vermelha, dura, como deveria de ser. O corte foi feito com muito cuidado em um lugar onde fosse possível escondê-la depois. Não incomoda, não dói, não coça. É praticamente como se não existisse.
É a marca física de um momento único, o mais importante até hoje. Foi a saída de um mundo e a porta para outro.
A outra, imperceptível aos olhos de qualquer um. Aos pouquinhos vai se curando, se fechando. Vez ou outra infecciona-se surge um líquido alcalino mais ou menos espesso, resultante da inflamação aguda, crónica constituída pelo exsudato inflamatório na alma. Mas sempre há uma pomadinha que cuida, as pomadas a base de luz do sol, brisa no rosto, abraço amigo, um olhar para dentro.
Uma se vê a outra se percebe.
Uma, com o tempo ficará clara, lisa, até bonita...pode ser que um dia seja aberta novamente, aí serão dois marcos para uma mesma lembrança.
Outra, estará sempre com um pedaço de pano ou papel untado de qualquer medicamento acima para abrandar correndo o risco de inflamar-se novamente.
Entretanto, a última será a cicatriz mais bela, trará sempre uma dorzinha no peito acompanhada de uma saudade gostosa e assim como sua precedência merecerá minha atenção e cuidado e não será somente a marca da "passagem" e sim o vestígio deixado na haste pelas folhas que caíram.

FILHA


Mom & Daughter
Originally uploaded by Afriadi Hikmal
FILHA

guardo-te
dentro do meu peito
dentro da minha vida
dentro de tudo que penso
e aguardo, descrente
o dia em que as palavras
nos alcançarão

Poema cedido carinhosamente pela Sabrina.

open road


open road
Originally uploaded by JKönig
A realidade é desejável e incentivada pela maioria das pessoas sãs. É o objetivo de muitas terapias, como deveria ser. Enfrentar e chegar a um acordo com o que é é um ato benéfico. A aceitação traz paz. E frequentemente é a virada para mudanças.
Ela enfrenta cada dia a perspectiva de aceitar ou rejeitar a realidade daquele dia em particular e de suas circunstâncias presentes. Todos têm muitas coisas para aceitar no curso normal da vida, desde o momento em que abre-se os olhos ao acordar pela manhã até fechá-los, à noite. Em certos dias é mais fácil aceitar essas circunstâncias. Acontece naturalmente. Seu cabelo está ajeitado, o chefe está de bom humor, a casa está limpa, o carro funciona perfeitamente...Sabe-se o que esperar e o que se espera é aceitável. Tudo bem. Mas em outros dias as coisas podem não correr tão bem. Suas presentes circunstâncias foram alteradas e ela precisou aceitar uma situação nova. Ela poderia inicialmente reagir negando ou resistindo à mudança, ao problema ou à perda. Queria que as coisas ficassem como eram antes. Queria se sentir confortável de novo. Queria saber o que esperar. Mas deparou-se com janelas quebradas, encontros não cumpridos, mentiras deslavadas.
Porém, a perda mais dolorosa que ela sentiu foi a perda de seus sonhos, de sua esperança, das expectativas idealistas para o futuro que a maioria das pessoas tem. Suas esperanças não incluíam tamanha perda, seus sonhos não incluíam isso. Ela se agarrou por muito tempo aquele sonho, voou diante da realidade, acenando com esses sonhos para a verdade. Mas um dia a verdade a prendeu e não quis mais aceitar rejeição ou negação. Não foi o que ela desejou, planejou, pediu ou esperou. Nunca seria. O sonho estava morto, e nunca mais voltaria a viver. E nada morre mais lentamente ou mais dolorosamente do que um sonho.

Até mesmo a recuperação traz perdas, mais mudanças que ela deve lutar para aceitar. Esperanças esmagadas são esperanças esmagadas. Decepções são decepções. Mas ela decidiu aceitar, foi sincero, veio de dentro. Decidiu que deveria conquistar o estado de paz novamente. Mas como? Como ela poderia encarar toda a realidade sem piscar os olhos ou sem cobrí-los? Como aceitar aquela coisa dolorosa? Não sem antes gritar e espernear um pouco. Depois que ela fechou os olhos, gritou, esperneou e negociou, finalmente sentiu a dor e chegou ao estado de aceitação. E a aceitação não foi confundida com um estado feliz, é quase uma ausência de emoções. É como se a dor tivesse passado, a luta tivesse acabado. Ela está en paz com as coisas como são. Está livre para ficar, livre para ir, livre para tomar quaisquer decisões que precise tomar. Está livre! Aceitou sua perda por maior que seja. Tornou-se uma parte aceitável de suas circunstâncias. Está se ajustando e se reorganizando. Não só se sente confortável com suas circunstâncias e as transformacões pelas quais passou, como acredita que de alguma forma se benefciou com isso mesmo não compreendendo totalmente como ou por quê. Parou de correr ou esquivar-se. Agora pode ir em frente. Não é muito confortável, na verdade é incômodo, às vezes, doloroso. Mas ela sabe que é resistente, em seu prório ritmo, a sua maneira caminha e diz para si mesma "a única maneira de sair é atravessando".

Mães de uti

Quando me tornei uma "mãe de uti" descobri que quando se faz parte deste grupo você descobre o quão incrível são alguns seres humanos. Nos 9 dias em que acompanhei a Lelê na uti fiz amizades deliciosas.
Geralmente temos a imagem de que as mães são fortes mas quando se conhece uma mãe de uti deve-se multiplicar esta imagem ao quadrado, ou melhor, ao cubo. Estão sempre otimistas, contam suas histórias e de seus filhos sempre com uma enorme esperança. São unidas.
Para se ter melhor uma idéia do que passamos aí vai uma parte do texto de Maria Julia Miele:
"UTI é o lugar mais horrível para se estar. É um lugar que testa violentamente os limites humanos daqueles que a habitam diariamente, minuto a minuto. Ali são testados mães, pais, médicos, mesmo os mais experientes."
" É muito difícil ter um filho na UTI. São momentos solitários, nos quais você tem de aprender a lidar com seus limites, sua impotência, seu egoísmo, além de tentar determinar sinceramente até onde você será capaz de ir."
"É conviver com o medo 24 horas por dia. É sentir o coração disparando cada vez que você chega e só senti-lo bater ritmado depois de pousar os olhos em seu bebê e ter certeza de que está tudo bem. Medo da perda, medo da piora, medo do futuro incerto, medo do presente. Medo da própria capacidade de suportar as notícias."


Então, nessa situação conheci duas mães na sala da Lelê que nasceram de 26 e 28 semanas a Sofia e a Gabi. Fiquei muito amiga das duas mães, foram muito companheiras. Dávamos muita força uma para a outra, as emoções ficam a flôr da pele e não há espaço para sentimentos além de amor e coragem.
No dia em que a Lelê faleceu foram as duas únicas que nã consegui despedir-me, e nos últimos suspiros dela pedi que cuidasse de suas amiguinhas. Pensava muito nelas e em suas filhas que estavam em uma situação bastante delicada também por serem tão pequeninas.

Desde então pensava em ir a maternidade visitá-las mas para isso deveria enfrenter meus fantasmas para retornar aquele local que me trazia tanta recordação. Hoje, separei as duas roupas da Lelê que eu mais gosto, fiz dois pacotes bem bonitos e fui para lá. Um misto de medo e ansiedade tomava conta de mim, mas como tenho muito carinho por elas queria notícias e sabia que ficaria muito feliz quando soubesse que elas estão bem.

Me surpreendi pois não fiquei triste quando estava lá, não deixei que a tristeza tomasse conta de mim, e fiquei muito feliz por saber que a Gabi foi para casa há duas semanas e a Sofia terá logo alta. Na dor, fiz duas amigas maravilhosas que terão sempre a minha pequena olhando pelas suas.
A vitória delas é a minha também.

Muita sorte

Este final de semana pensei bastante em tudo. Engraçado que algumas coisas coincidiram com alguns comentários que foram deixados aqui com muito carinho.

Pensei em como sou covarde em diminuir o problema das pessoas por suas dores serem diferentes da minha. Acho que quando dizem que "Deus não nos dá uma cruz maior do que a que podemos carregar" as pessoas tem razão. Se para meu crescimento é necessário que eu passe por isso, então vamos lá! Não sou a primeira nem a última (infelizmente) mulher a perder um filho. Se para algumas pessoas a falta do telefonema do namorado, o trânsito, a unha quebrada causam sofrimento quem sou eu para dizer que elas não deveriam sofrer por isso? O ser humano adora ter do que se queixar então cada um encontra em sua vida motivo para tal. Não posso e nem seria justo comparar o motivo da minha dor com a de outras pessoas.

Outro dia, conversando com um taxista, um senhor bem idoso já, aquele tipo de pessoa que adora bater um papo, percebi que nem mesmo o meu sofrimento é tão grande. Quando ele me contou a história de sua esposa, pensei "obrigada por tudo Deus, não posso reclamar de minha vida" pois sou uma pessoa de muita sorte.


Fazendo um balanço de meu crescimento esta semana, pude perceber que não me saí muito bem. Não tão bem como esperava que fosse. Devido a minha crise de saudade, preciso confessar que esta me deu medo, precisei parar um pouco para me permitir sentir o que gritava dentro do meu peito. Negar estes sentimentos não é saudável, pelo menos é o que minha terapeuta diz. Desliguei todos os telefones, sumi do mapa. Me acolhi em meu casulo e dentro daquele silêncio chorei. As vezes é bom chorar, são lágrimas preciosas e escorrem por uma pessoa mais que especial. Passei alguns dias assim, saudosa. A noite olhava para o céu e lá estava a "estrela Valentina". Não é isso que as crianças fazem, escolhem uma estrela no céu em que acreditam ser o ente querido que lá está. E foi o que eu fiz quando ela se foi. Então, eu olhava para a minha estrela Valentina e a dizia como a amo e até cheguei a desejar que a encontrasse logo. Ela ainda faz falta em meus dias mas tenho conseguido preenchê-los.
Esta semana também serviu para que eu avaliasse que milagres não acontecem assim tão facilmente, e que infelizmente nem todas as pessoas conseguem parar e prestar atenção na vida. Ainda vejo algumas sofrerem pela unha que quebrou, pelo namorado que não ligou, pelo trânsito, pelo porteiro que não entregou a correspondência....E são coisas deste tipo que me cansam. Quanta coisa sem importância, pequena, fácil de se resolver. Vendo tudo isso sinto falta de pessoas de verdade no mundo.

E após esta difícil semana, acordei hoje ainda sem vontade de fazer nada ou ver ninguém mas me deparei com um lindo dia, céu azul e ensolarado. Fui para a varanda com minha xícara de café e um sentimento muito gostoso invadiu-me: não posso me isolar do mundo, preciso viver, preciso existir, pois agora existo por duas. Este sol brilha para mim e para ela, e por ela tenho obrigação de ter o máximo de momentos felizes pois era isso que ela fazia por mim. Sempre que sentir que minhas forças estão por acabar é na minha boneca que as buscarei. E sei que em algum lugar ela está segurando a minha mão para guiar-me e não me deixar cair.

Olhar para frente. Repito isso para mim o tempo todo desde que a Lelê se foi.
"Karen, olha para frente, a estrada não está clara, mas você sabe que ela está bem aí". Mesmo seguindo meu instinto com a cabeça bem erguida não sou de ferro. Ontem tive minha crise de choro por saudades dela. No dia 07 completaram-se 2 meses que ela se foi. Percebi que quando pessoas amadas morrem tenho a "crise dos 2 meses". Foi assim com a minha avó, com o meu pai e claro, não seria diferente com a Lelê. Fico lá firme e forte mas quando completa-se este período tenho a minha crise de saudade o que é engraçado pois não sei o motivo deste tempo. Imaginei que por algum motivo alguém poderia ter noção do que eu sentia mas isso é impossível. Ninguém quis tanto a Valentina quanto eu, a tive comigo por 8 meses, descobri as posições que ela gostava de ficar na barriga, os primeiros movimentos, tudo. Fomos companheiras 24 horas durante 35 semanas...Como é que alguém poderia ter noção da falta que ela me faz né? Tsc tsc tsc...as vezes me surpreendo como sou ingênua.

Mas, o mais importante desta crise de choro foi enfrentar a mim mesma. Estou aqui, ela está aqui presente em meu coração, minhas lembranças e por mais que não esteja fisicamente quando olho para frente ela também está lá. Ela está presente em todos os meus dias me mostrando o quanto mudei desde que descobri sua existência. Uma coisa muito importante que aprendi por ela foi a ser mais humildade pois o orgulho não leva ninguém a lugar nenhum. Não me refiro ao amor próprio, mas aquele orgulho estúpido de não dizer o que tenho vontade, não falar com alguém quando quero, de pedir desculpas sem parecer inferior. Com a minha filha aprendi a ser verdadeira comigo mesma e isso ninguém muda mais.

E essa música é como a minha linda bonequinha me faz sentir. Quando olho adiante é assim que me sinto. Obrigada filha. Te amo mais que tudo.

É incrível mesmo aquele ditado que diz que o ser humano só aprende quando passa por algo doloroso.
Nunca pude reclamar da minha vida, claro que nada é muito fácil, mas também se precisei me esforçar para conseguí-las valeu a pena. Quando estamos muito felizes pouco paramos para pensar em que poderíamos melhorar, então a vida nos prepara situações em que somos obrigados a parar um pouco, sair da êxtase da felicidade e pensar para onde vamos, o que queremos, quem são as pessoas impostante em nossa vida, este tipo de coisa.

Comigo não foi diferente. Já tomei alguns tombos e sobrevivi a cada um, sempre me policiando para não cometer os mesmos erros. Quando me encontrava neste estado total de felicidade pouco parava para pensar em como tais pessoas e situações eram agradavelmente acolhedoras, afetuosas, dedicadas. Com isso, não lhes dei o merecido valor. Mesmo que desse, não era o suficiente.

Na última semana, pensei muito sobre minha vida. Demais até. E o resultado não foi muito bom para todos, mas tenho certeza que será a longo prazo.
Percebi que todoas as vezes em que me encontrei em situações difíceis, doloridas ou algo parecido havia alguém ao meu lado para me apoiar, acolher, encorajar. Mas, eu, onde estava durante todo este tempo?

Não posso reclamar de ter tido essas pessoas importantes que tenho, tive, em minha vida nestes momentos. Sou grata a elas.
Entretanto, depois de minha boneca ter ido embora, na semana passada, pela primeira vez, vi o quão importante é que eu me levante sozinha neste momento. A vida me deu uma oportunidade de me tornar um ser humano melhor, e não posso perdê-la. Se toda as vezes que eu passar por algo doloroso me aopiar em alguém que crescimento teria? E se a pessoa não estiver ao meu lado, como já aconteceu? Me apoiarei em outra? Cansei.
Decidi ficar sozinha, e sozinha me fortalecerei e por mais que as pessoas estejam ou não ao meu lado, continuarei forte. Por mais doloroso que seja para mim e para elas, será o melhor para todos. Cada um vivendo sua vida e superado suas dores. Tenho certeza que o resultado disso será muito melhor.

...

Perfeito

Navegando em aguns blogs deparei-me com este lindo poema, e cabe a este momento da minha vida.

c o n f o r m i s m o
Passado algum tempo...
Voltamos a olhar para o que está à nossa frente.
Aquele que foi já não é mais TUDO! Porque está distante...
E então ficamos bem com aquilo que temos.


Quem o escreveu foi Garota do Blog De Eu Pra Mim

Hoje aprendi uma coisa muito dolorosa mas valiosa sobre desligamento.
Desligar-me não significa que não me importo, significa que aprendi a amar, a me importar e a me envolver sem ficar louca. Parei de criar todo um caos em minha mente e nos ambientes. Quando não me debato ansiosa e compulsivamente me torno capaz de tomar boas decisões sobre como amar as pessoas e como resolver meus problemas. Fico livre para me importar e amar aos outros sem me ferir. Desligamento também envolve acaietar a realidade, os fatos. Requer fé em mim mesma, em outras pessoas e na ordem natural e no destino das coisas neste mundo.

Desligamento não é um abandono frio e hostil; a resignada, desesperada aceitação de qualquer coisa que a vida e as pessoas jogam em meu caminho. Desligamento é desobrigar-se de uma pessoa ou situaçnao com amor. Ele é baseado na premissa de que cada pessoa é responsável por si mesma, que não podem resolver problemas que são meus.

Entendi que desligamento não significa desligar-me das pessoas que amo, mas da agonia do envolvimento.

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