Quando descobri que a Lelê tinha um problema, na época o diagnóstico era de hérnia diafragmática, meu mundo foi em ruínas. Sentimentos dos mais variados tipos invadiram-me sem que eu tivesse tempo de detectá-los e dizer a mim mesma que tudo ficaria bem. Não, nem sempre as coisas ficam como gostaríamos mas leva-se algum tempo para perceber que os fatos são como deveriam ser.
Partiu então, de uma pessoa muito querida a idéia de escrever um tipo de diário para a Valentina. Era um modo de trazer esperança de que algum dia eu entregaria a ela aquele livro, ou seja, ela estaria viva para ter a oportunidade de conhecer sua mãe aos 30 anos. Foi para mim uma oportunidade de colocar meus sentimentos no papel e descobrir como lidar com eles. Escrever para a Valentina fazia com que eu não usasse minha mente de forma imprópria, não ficasse extremamente preocupada, obcecada e cheia de pensamentos ansiosos. Aprendi com isso a abandonar esses padrões. Minha mente conseguia trabalhar direito e era possível analisar os fatos. Foi uma fase bem difícil pela incerteza do futuro com ela, mas era possível de certa forma ter muito mais fé, e perceber o meu comportamento diante das circunstâncias.
Fui a uma papelaria que amo e comprei o caderno mais lindo, com capa dura, de couro e folhas totalmente brancas, sem linhas. Não queria linha alguma para delimitar o nosso espaço.
Comecei: "minha amada filha,"...
Me imaginei conversando com ela aos 15 anos, a idade em que pretendia entregar-lhe aquele presente. As palavras escorriam por meus dedos e eram impressas por uma caneta com escrita fina, tênue nas folhas brancas.
Era difícil discernir o que deveria ou não falar-lhe já que não tinha a intenção de falar de outras pessoas e estas faziam parte de minha vida e daquele momento primordial. Igualmente não queria parecer-lhe perfeita, já que não o sou, e nem mesmo quase perfeita. Deixei então as palavras fluírem preparando assim a minha mente para um pouco de sossego. Expressei o que sentia saudavelmente, o medo, o amor, as notícias, as consultas, a família, as orações, o dia-a-dia. Ela conheceria sua mãe como uma pessoa outra qualquer e não como a figura materna.
Após seu nascimento, eu passava os intervalos entre as visitas escrevendo pois meu desígnio em expressar as sensações vividas naqueles dias era absurdo. Estava desprovida de palavras para expressar o excesso de emoções. Mesmo desse modo, escrevia com os recursos que me eram abundantes - sentimentos. Algumas páginas tinham borrados, tradução de lágrimas.
Na ocasião dos preparativos para seu enterro tratei de libertar cada folha escrita já que o livro era grande para o pequeno espaço, dobrei-as com todo meu amor e lhe entreguei da maneira que pude.
O que foi escrito era destinado à minha boneca e assim cumpriu seu destino.
Imagem:Valcox's Flickr.
Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial
Eu comprei uma agenda também,não para escrever pro Eduardo, mas para mim, lembrar o que sentia,os piores dias,os medos e pas esperanças...E as coisas boas da gravidez também,esperava no futuro,ler aquilo e pensar:Valeu a pena!Alguns dias da uti tbem escrevi,agora ta lá,ainda na minha mesa de cabeceira.
Recebeu as fotos?
dani carelli
taderbal disse...
08/08/2008, 16:04
As mães têm tanto amor para dar... deveria ser terminantemente proibido uma mãe perder o seu filho... O que fazer com todo esse amor? Não dá pra dobrar, colocar numa caixinha e guardar na estante.
Karen,
Não sei se, no seu lugar, eu teria toda essa força, toda essa coragem.
Tenha um ótimo final de semana, querida!
beijos
Maria Carla
Maria Carla disse...
08/08/2008, 16:05
Dani,
Recebi sim e respondi seu email, você não recebeu?
Escrever para mim é uma boa maneira de desabafar...e você releu o que escreveu?
Maria Carla,
Adoro suas visitas. Quem dera existisse esta lei universal, mas enfim, a única certeza que temos é que um dia iremos dessa para melhor, ou não? rsss
Logo que tudo aconteceu, minha mãe me disse algo que jamais esquecerei "tenho muito orgulho de você, foi digna em todos os momentos, esteve com a Lelê no momento em que ela mais precisou do seu amor". As coisas acontecem rapidamente e não dá tempo de pensar em agir de uma ou outra maneira, no fundo ela tem razão, são em momentos assim que nosso eu mostra a cara de verdade, sem máscara nenhuma. Acho que todo o meu amor por ela foi sentido quando ela precisou. Ele ainda existe, existirá sempre e mesmo que ela não esteja aqui continuará sendo meu amor por ela, afinal, ela é a pessoa mais importante da minha vida.
O que escrevi foi junto com ela, ninguém entendeu muito o que eu queria colocando aquelas folhas em seu caixãozinho, mas não importa. Fiz para ela, e com ela foi.
Bjs e bom final de semana.
Karen disse...
08/08/2008, 16:20
Não recebi não!
tentano belturviagens@terra.com.br, da minha agencia
dani carelli
taderbal disse...
08/08/2008, 16:37
Karen,
Que texto tocante!
Bjs
Sheyla disse...
08/08/2008, 16:45
Vc escreve tão bonito... Imagino que palavras lindas a Valentina levou com ela. Não muitas, mas bonitas. O meu desejo é que vc receba a chance de escrever novamente lindas palavras, mas que, dessa vez, seja mesmo um livro e vc possa entregar o presente pro(a) seu(sua) filho(a) qdo ele(a) tiver 15 anos. Um beijo bem grande junto com abraço apertado. Que o seu fim de semana seja abençoado
Liliany disse...
08/08/2008, 16:59
Karen,
também adoro vir te visitar!!
Adorei o que a Liliany escreveu... os desejos dela são meus também!
Beijos
Maria Carla disse...
08/08/2008, 17:32
Dani,
Reenviei, veja se recebeu.
Liliany,
Obrigada, o objetivo não é exatamente escrever bonito e sim escrever com o coração. Vai ver a beleza dela reflete em minhas palavras :)
Sim, quando tiver esta chance novamente com certeza escreverei um outro livro aí já sernao tantas outras coisas para falar!
Bom final de semana para todas.
bjs
Karen disse...
08/08/2008, 18:32
nao!!q coisa
vc tem msn?
o meu é dlcarelli@hotmail.com
taderbal disse...
08/08/2008, 18:55
Karen, florzinha!
Um final de semana lindo prá você.
Escrever deveria ter no dicionário o sinônimo de expurgar, não é?
Purifiquemos, então, compartilhando, sempre!
Um carinho.
Elga Arantes disse...
08/08/2008, 21:22
Ai, querida, inevitável, mas pensei no livro "Paula", da Isabel Allende, já leu? Ela escreve para a filha que está na UTI. Muito emocionante. Beijos, mulher de força. Da Fê.
Fernanda França disse...
09/08/2008, 02:44
E seria um belo presente: todo o amor, cuidado e carinho descrito num livro. Entre as acções do dia a dia, os vários passos alcançados na vida da bebé... Ela ia adorar, sem dúvida! :)
Beijinho *
Martinha disse...
09/08/2008, 12:11
Fe,
Não li, não conhecia esta história também. Vou procurar.
Martiha,
Acho que ela ia gostar mesmo, isso é raro hoje em dia né, um presente assim. Mas tudo bem, ela levou com ela.
bjs
Karen disse...
09/08/2008, 13:54