Sempre soube que não sou perfeita, muito menos sirvo de exemplo para alguém. Sei que não tinha nascido para ser uma boa dona de casa. Cozinho mais ou menos, não sei tirar manchas...Também nunca achei que tinha nascido para ser a profissional mais importante do mundo, com citações nos meios de comunicação de maior destaque. Também sei que não nasci para ser a esposa ideal. Aliás, não tenho certeza nem se nasci para ser esposa, quanto menos ideal. Como também
não nasci talhada para tocar nenhum instrumento musical, nem praticar algum esporte, e por mais que eu goste de dançar, sei que não nasci para ser a nova revelação da dança...por todos estes motivos, eu sempre vaguei meio sem rumo por aí. Sempre fiz um pouco de tudo mas nada com perfeição. Só agora eu descobri qual minha verdadeira vocação: nasci para ser mãe. Com isso me encontrei, mudei, descobri que dentro de mim existe uma pessoa que eu nem fazia idéia, vezes melhor, vezes não.
Para mim, era difícil assimilar que eu não era mais sua. Porque mesmo quando a gente ainda não estava junto eu já era sua. Mesmo quando a gente ficou meses sem se ver, eu continuava sendo sua. E quando eu tentava te esquecer com quem valia a pena, sem sombra de dúvida que eu era sua sim. Sei que na maior parte do tempo você não era meu marido, nem meu namorado, nem nenhuma outra palavra que possa ser colocada depois do pronome "meu". Sei que na maior parte do tempo
eu estava com você, mas você não estava comigo, e por mais que eu tentasse fazer você estar comigo você fazia pouco caso disso, já que não estava mesmo comigo. E quando eu tentava me afastar de você, aí mesmo que você não estava comigo nem em sonhos nem em pesadelos. Só que um dia depois de tanto tempo sendo sua e continuando sozinha, eu deixei de estar sozinha. E aí você disse: "ou ele, ou eu". Escolhi ele. E por mais inverossímel que parecesse você passou a estar comigo tanto quanto eu estava com você.
E para isso acontecer eu precisei passar por cima do meu orgulho, dos conceitos de uma sociedade inteira e, principalmente de você. Não foi nada fácil não, mas pelo menos eu achei que épocas difíceis haviam ficado para trás. Que o tempo em que eu era sua e estava sozinha, isso tinha ficado no passado. Só que, quando eu menos queria, isso voltou a ser realidade. E se já era difícil não ser nada sua antigamente, agora é que ficou impossível. É como se tivessem me dado uma amostra grátis só para eu sentir que gostinho tem a felicidade.
Não foi por falta de amor não. Só que ao contrário do que sempre acreditei, amor não basta. E você confirmou isso. O que basta é uma das perguntas que ando me fazendo ultimamente. É claro que me lembro dos momentos felizes, e eles não são poucos não. Pra falar a verdade, a grande maioria dos meus momentos mais felizes foi com você e dado por você. Nisso, você sempre foi craque. Mas só nos comerciais de planos de saúde é que a vida é feita de momentos. A vida real é um conjunto de momentos sim, mas é feita também de compromissos, responsabilidades e outras coisas não tão divertidas.
Esse monte de coisas que quando foi necessário você incorporar na sua vida, você não conseguiu e virou outra pessoa.
Sabe, se desse pra levar a vida como antigamente eu ainda acreditaria que amor basta. Só que não dá para voltar no tempo e mesmo que desse, eu não voltaria. Porque as mesmas coisas que fizeram com que fosse impossível a gente ser feliz junto me fizeram mudar e ter a possibilidade de ser feliz agora.
A dor que sinto cansa, e muito. Cansada, sim, mas feliz. Não pense que estou fazendo pouco caso da nossa felicidade anterior, mas é que ela é muito pequena comparada a felicidade que sinto hoje, mesmo estando longe dela. A felicidade que sinto é quando penso que tive a oportunidade de ter uma filha incrível, que mesmo sem me dizer uma única palavra me mostrou do que sou capaz. Sou capaz inclusive de perceber que ser humilde e não ter orgulho não é feio (coisa impossível em outros tempos não??). Percebo cada vez mais que é ela que estava me dando coragem pra viver e não eu a ela.
O seu domínio sobre mim acabou. Eu mudei, não sou mais a mesma pessoa que negava todos os seus defeitos e te olhava somente com bons olhos. Você mudou também. Ao contrário de mim você tornou-se feio, arrogante. Sua arrogância provém de sua fraqueza em mostrar ao mundo a pessoa que eu admirei. Ao contrário de mim você endureceu, vive em um mundo faz de conta onde tudo parece belo, mas você sabe que não passa de um mundo superficial onde as pessoas fingem estar felizes sempre. Que vergonha...Tudo o que você esconde hoje é a sua melhor parte. Parte que essas pessoas não conhecem quando olham para você no alto de seu pedestal. Desce daí, você está horrível! Por gostar de você magoei pessoas muito mais importantes. Não percebe que o espaço que foi ocupado por você não está mais disponível? Está vazio mas não é mais seu. É meu espaço, somente meu. Toda sua influência sobre mim acabou, você não conhece mais as minhas fraquezas o que você sabia sobre mim já não vale de nada. Eu até que tinha algumas boas lembranças mas você fez questão de pisar em cima das minhas flores e destruir completamente o meu jardim, e olha que reguei sozinha as flores que restavam por muito tempo. Agora as planto sozinha. E não adianta tentar me enganar com palavras que eu já gostei de ouvir porque hoje, para mim, elas são vazias. Pode até ser que sejam verdades da sua parte mas eu gostava de ouví-las de outra pessoa. Você pensa que serei sua para sempre. Gosta de repetir isso, mas eu não sou mais e você nem percebeu.
Pode saber que sinto saudades da pessoa que você era, uma pessoa capaz de se fazer apaixonar por qualquer outra, uma pessoa extremamente gentil, com um coração imenso. Uma pessoa que não gostava de magoar ninguém que ama, que não tinha vergonha de demonstrar os sentimentos, de sorriso fácil... E é para esta pessoa também que agradeço por ter me dado a melhor coisa da minha vida, mesmo que o final não tenha sido dos melhores.
Mas esta saudade não se aplica a pessoa que você se tornou, a pessoa que você me mostrou. Não se aplica a pessoa que existe hoje dentro de você. E por isso mesmo que é só saudade. Porque saudade é um sentimento que mora no passado, sem presente nem futuro.
E saiba que você nunca me domou pois existem alumas mulheres que simplesmente não podem ser domadas e precisam de um homem tão selvagem quanto para acompanhá-las.
Demorou, mas aprendi isso.
Imagem: Bicho Solto
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Tempos difíceis,talvez decisivos...
taderbal disse...
25/08/2008, 23:20
Ah,escrevi no meu blog,da 1 visitada!
taderbal disse...
26/08/2008, 10:31
Sabe que nnao está tão difícil? Rss
bjs
Karen disse...
26/08/2008, 10:49
Karen,
Esse seu post tá 10, tá 1000!
Olha, vc conseguiu expressar-se de uma forma grandiosa. Com certeza, a Valentira está orgulhosa dessa mãe que, em pouco tempo de convivência, aprendeu muito com ela. A gente aprende mesmo é com os pequenos, que de pequenos só têm o tamanho medido nos centímetros. Palmas pras duas!
Sheyla disse...
26/08/2008, 11:08
Vixe Maria...
Vixe Maria de novo!!!
Moça, seu post está incrível. E sabe o que é mais engraçado? Certas coisas que disse, se parecem muito com sensações que tive.
" A vida real é um conjunto de momentos sim, mas é feita também de compromissos, responsabilidades e outras coisas não tão divertidas.
Esse monte de coisas que quando foi necessário você incorporar na sua vida, você não conseguiu e virou outra pessoa."
É... Minha vida não foi um comercial de plano de saúde e nem de margarina, mas a gente acaba aprendendo de alguma forma a se libertar.
Seu final foi grandioso:existem alumas mulheres que simplesmente não podem ser domadas e precisam de um homem tão selvagem quanto para acompanhá-las.
Quer saber, Também vou aplaudir: clap, clap, clap.
Parabéns por se libertar. Parabéns por se expressar assim! Eia, Silver!
sblogonoff café disse...
26/08/2008, 11:59
Ah, essa Valentina passou pela vida pra transformar a Karen numa mulher muito melhor!!!!
beijos, querida!!
Maria Carla
Maria Carla disse...
26/08/2008, 16:42
Karen,
acho fantástica essa tua entrega absoluta, esse mergulho despudorado dentro dos teus sentimentos, dos teus cantinhos, e vejo você renascendo de tudo isso, alguém especial, muito disposto a aprender com a vida, a entregar-se a tudo, a sorrir e a chorar.
adoro gente assim.
bjos
renata penna disse...
26/08/2008, 17:06
Sheyla e Maria Carla,
É, com certeza a minha boneca veio por algum motivo. Ajudar a mãe dela fazer uma faxina na vida deve ter sido um dos motivos. Fiquei bem mais corajosa mesmo depois dela. Espero que ela tenha muito orgulho de mim mesmo!!
Michelle,
Seus comentários são sempre um adendo aos meus posts! rsssss
Meus desabafos nem sempre agradam a todos mas, como eu sempre digo, a proposta do blog são meus desabafos. Quem não gostar que não leia pois ainda vem muuuuito por aí! rssss
Tata,
Faz parte da recuperação provavelmente. Eu sabia que chegaria um momento em que como vocie disse em seu post, temos que limpar debaixo do tapete. Estou tentando!
bjs
Karen disse...
26/08/2008, 19:14
Nossa,só me resta ser o estagiário do estagiário, pois o recorte que a Michele fez do seu texto, me fez pensar, "A Karen conhece meu ex marido?"
Convenci-me que o que nos uniu foram sensações, sentimentos, experiências muito parecidas que vivemos. Por isso, frases como, "Nossa, identifiquei-me demais com o post...", Estão ficando tão repetidas aqui.
Beijos.
Elga Arantes disse...
26/08/2008, 23:56
São tempos difíceis sim,agora não lhe parece pq passou a fase punk,depois disso tudo é marola,mas fazem parte da mesma fase da vida q esta passando,daqui um tempo vai olhar pra tras e pensar:que porrada que foi!Agora vc esta anestesiada,tudo é mais fácil, vc esta mais forte, agora vc é mãe da Valentina, não só a Karen!
taderbal disse...
27/08/2008, 00:40
Karen, que bom que tu passaste pelo meu blog e deixaste tua presença por lá, pois assim pude te conhecer e conhecer um pouco de tua vida aqui no teu blog. E é tão lindo ver pessoas intensas buscando suas verdades interiores. É um prazer te conhecer. Este teu post está lindo.
beijos
Fabiana
Fabiana disse...
27/08/2008, 09:00
Eu li ontem, e fiquei feliz com o seu desabafo. É bom colocar pra fora, mesmo que no papel, aquilo que, de uma forma ou de outra, está preso na gente. Dá uma paz imensa depois.
Beijos.
Anônimo disse...
27/08/2008, 11:28
Sinceramente? O que eu sinto a cada vez que entro aqui é que vc se supera. Está realmente a cada texto melhor. Mais preparada, mais lúcida, mais madura.
Parabéns, Karen. Acho realmente que vc já sabe exatamente o que fazer com a sua dor... E tem feito!
Grande beijo!
E muita força.
Patrícia Ferraz disse...
28/08/2008, 01:20